segunda-feira, julho 24, 2006

Watchmen - "Who watches the watchmen?" ("Quem vigia os vigilantes?")


Pode ser difícil de imaginar hoje, mas em 1985, ninguém era particularmente familiar com a noção de super-heróis dotados de emoções humanas e problemas psicológicos, para além dos normais queixos quadrados. Watchmen escrito por Alan Moore e desenhado por Dave Gibbons ajudaram a reformularam todo o género.

Alan Moore

Situada numa realidade fictícia na qual os super-heróis são reais, Watchmen é um drama de crime e aventura que incorpora filosofia moral, cultura popular, história, arte e ciência.

Considerado um marco (juntamente com O Retorno do Cavaleiro das Trevas de Frank Miller e Maus de Art Spiegelman). A série ganhou vários Prémios Kirby e Eisner, além de uma honra especial no Prémio Hugo, a única graphic novel a conseguir esse feito.

A trama principal trata dos desdobramentos de uma conspiração revelada pela investigação do assassinato de Edward Blake, logo revelado como sendo a identidade civil do Comediante. Em torno desta história giram vários casos paralelos que exploram a natureza humana e as diferentes interpretações de cada pessoa para os conflitos do bem contra o mal, através das histórias pessoais e relacionamentos dos personagens principais.

Na realidade de Watchmen, Richard Nixon conduziu os EUA à vitória na Guerra do Vietnam. Esta vitória, além de muitas outras diferenças entre o mundo verdadeiro e o da história, deriva da existência do Doutor Manhattan, um super-herói com vasto controlo sobre a matéria e a energia.

O Doutor Manhattan, o único a possuir poderes paranormais, foi o primeiro da "nova era" de super-heróis mais sofisticados que durou do começo dos anos 60 até a promulgação da "Lei Keene" em 1977, implantada em resposta à greve da polícia e a revolta da população contra os vigilantes que agiam acima da lei.

A Lei Keene exigia que todos os "vigilantes" se registassem no governo. A maioria deles resolveu aposentar-se, alguns revelando suas identidades secretas para facturar com a atenção dos média. Outros, como o Comediante e o Doutor Manhattan, continuaram a trabalhar sob a supervisão e o controle do governo. Rorschach, entretanto, passou a operar como um vigilante renegado e fora-da-lei.


A responsabilidade moral é um tema em destaque, e o título Watchmen refere-se à frase em latim "Quis custodiet ipsos custodes", traduzida comummente como "Who watches the watchmen?" ("Quem vigia os vigilantes?"), retirada de uma sátira de Juvenal.

Watchmen é um extraordinário livro (graphic novel), que tem de ser lido no mínimo duas vezes. Eu já perdi a conta de quantas vezes o li. Não há hipótese de se conseguir absorver toda a informação numa só leitura, devido à trama e detalhes bem trabalhados muitas das vezes despercebidos. À primeira leitura, irão se deparar com um fim no mínimo surpreendente, à segunda irão se perguntar como é que não se aperceberam de todas aquelas pistas.


Cada parte da acção está ligada à cena seguinte. Os símbolos, das pirâmides ao famoso smiley desfigurado, contribuem com perversidade à arte final, fornecendo referências visuais aos temas da história. Imagens tão simples e diárias como os objectos em queda que aterram em profundidade num significado dum processo da associação e da repetição, de modo que, ler o livro e remendar todos os retalhos temporais sejam um desafio intelectualmente brilhante ao leitor. Puxar as páginas do livro enquanto se lê é tão satisfatório como completar o último indício de umas palavras cruzadas ou colocar a peça final de um puzzle.

O livro é essencialmente destinado a pessoa familiarizadas com o género do super-herói, porque muito do material deste livro para aqueles com pouco conhecimento do meio são forçados a ignorar, devido à forma como género é reconstruído.

Este livro teve grande impacto na minha adolescência e como já o disse, ainda hoje me deleito nas suas cores e enredos. A razão desta postagem prendesse com o facto de existirem rumores da realização de um filme baseado no livro, a ser verdade ficarei a contar os dias até a sua estreia e espero não sair decepcionado, pois já vi muitas adaptações de BD a cinema de géneros mais simples, que acabam de uma forma ou de outra por resultar, mas nunca de um tão complexo como Watchmen.
"...Perhaps the world is not made, perhaps it simply is, has been and will always be there... A clock without a craftsman..."

4 Comments:

Blogger Nómada Global said...

Já me deixaste curioso, comics-fan!

Abraço.

8:03 da manhã  
Blogger Igguk said...

Nómada, o Alan Moore já teve várias das suas obras adaptadas ao cinema, podes pesquisar - V for Vendetta ou a liga dos extraordinários cavalheiros - como exemplo. Garanto-te que nenhum destes livros chega aos calcanhares de Watchmen. Se tiveres oportunidade lê-o, não te vais arrepender (desde que não seja a versão em castelhano :)).

1:20 da tarde  
Blogger Plasma said...

A liga de cavalheiros é um filme do pior... Até tinha potencial, mas acaba por ser muito mau!!

A melhor adaptação BD, para mim, o Sin City, do Frank Miller. Estava a ver o filme, e era como se estivesse dentro do livro, com aqueles contrastes preto/branco acentuados!

6:13 da tarde  
Blogger Igguk said...

Plasma, concordo perfeitamente. Inclusive sou de opinião que a série em BD da liga de cavalheiro é um pouco forçada.

Sin City é definitivamente a melhor adaptação que já vi e a mais coerente, mas a graphic novel Sin City é uma história simples sem a complexidade de Watchmen

6:31 da tarde  

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